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Minerador de Idéias e de Palavras

 

Francisco Carvalho

 

Venho de receber exemplar de Testemunho & Participação, novo livro de Anderson Braga Horta, constituído de ensaio e crítica literária (Thesaurus Editora, 375 p., Brasília, 2005). Tem-se nele uma visão abrangente e diversificada de uma constelação de poetas e prosadores brasileiros de tendências as mais variadas. No preâmbulo, o autor presta esclarecimentos acerca das diretrizes adotadas na organização dos segmentos de que se compõe a estrutura da obra. Não só explica a filosofia e origem dos ensaios, como também alimenta a expectativa de que o seu livro venha a ser “de alguma valia para a memória literária de uma época”...

Todos sabemos das dificuldades que assediam os profissionais da crítica literária. Ora lhes atiram pedras, ora lhes fazem reverências. No primeiro caso, quando têm a coragem de denunciar as fraturas expostas das mediocridades literárias. Na segunda hipótese, quando fecham os olhos à indigência intelectual de escritores a que faltam as condições preliminares para o ofício. Para Raul Pompéia, “A crítica não ensina a fazer obras de arte; ensina a compreendê-las”. Anatole France vê deste modo os que procuram pérolas ou cascalhos nos escritos alheios: “O bom crítico é aquele que conta as aventuras de sua alma no meio das obras-primas”. Não custa lembrar, todavia, que a legião dos inimigos da crítica é bastante mais numerosa do que se pode imaginar.

Trabalho de fôlego, levado a cabo por um dos mais operosos intelectuais da atualidade, no qual convivem o poeta, o ensaísta, o crítico literário, o organizador de antologias e o tradutor de poetas estrangeiros. Em todos esses empreendimentos, o escritor mineiro revela profundos conhecimentos da ciência da literatura, do seu legado teórico, das estratégias da linguagem e do pluralismo da norma culta.

Empreendimento de tal magnitude implica exaustivas atividades na pesquisa de elementos e de vários outros aspectos relacionados com as tendências e opções temáticas dos autores estudados. Livro desse porte não é seguramente tarefa para iniciados. Independentemente das predileções do autor (o que é natural em se tratando de análises de textos onde se abrigam idéias antagônicas e conteúdos heterogêneos), o que se verifica é a predominância de avaliações impessoais, calcadas nos elementos essenciais da composição das estruturas lingüísticas, sem os costumeiros proselitismos que algumas vezes comprometem certas críticas e análises da literatura, não excluindo as de ordem ideológica, estética e até mesmo de natureza geográfica.

Para se ter uma idéia da extensão das fontes consultadas pelo autor, bastaria dizer que o índice onomástico ocupa mais de dez páginas do livro, fato que por si só evidencia a preocupação de ABH no que se refere ao embasamento conceitual do seu testemunho crítico.

Testemunho & Participação é desses livros que necessariamente elastecem os horizontes da tradição cultural de um povo. Presta-se a consultas de professores e estudantes de cursos de letras e até mesmo do ensino de nível médio. Não apenas pela riqueza das informações qualificadas, como também pela credibilidade das fontes a que teve acesso o autor, ele próprio um dos profissionais mais operosos da moderna literatura brasileira, como já citado aqui no início destes rascunhos.

Valho-me do ensejo para destacar o privilégio de ter o meu nome incluído entre figuras exponenciais das letras brasileiras. Pois todos sabem o que significa fazer literatura nas províncias deste país de capitanias hereditárias, onde os grandes jornais só publicam textos de celebridades ou de meia dúzia de privilegiados que disputam as simpatias dos chamados críticos de ocasião.

Poeta de vasta fortuna crítica, Anderson Braga Horta tem angariado as justas simpatias de numerosos profissionais da crítica literária do país, os quais reconhecem os méritos de sua rica e diversificada trajetória no imprevisível universo das letras. Como todo mineiro que se preza, esse filho de Carangola, que fez de Brasília o quartel-general de suas estratégias e opções intelectuais, nos dá preciosas lições de um autêntico minerador de idéias e de palavras.

Francisco Carvalho é poeta e ensaísta, autor de numerosa obra, em que sobressaem os títulos de poesia, como Os Mortos Azuis, Barca dos Sentidos, A Concha e o Rumor.