LITERATURA?DO INTERIOR
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Lino Vitti
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Alguém que se d?ao prazeroso trabalho de adentrar este
país misterioso, bonito, importante para a existência, a prosperidade
e?a cultura de um povo, como ?a
literatura, h?de estar maravilhado pelo que encontra nessa sua pesquisa e?diletantismo extemporâneo. H?de estar,
porque um passeio pela imensidade de páginas onde inteligências peregrinas
derramam o néctar daquilo que, como abelhas operárias dessa colméia da arte,
costumam colocar nos favos inumeráveis de sua composição artística, lhe
proporcionar?uma visão altiva da beleza e da doçura nelas contidas. São
doçuras e são belezas enredadas num estilo nobre, elevado, generoso; num
fraseado florido e colorido; oferecidas?
àqueles em cujo espírito ainda more o prazer e a compreensão da arte e
pela arte escrita. A literatura não faz pousada onde se encontre o obstáculo
imenso do pouco caso pelo belo, pelo elevado, pelo novo sensato. Ela não
convive com a aridez dos desertos.
?Compreenda-se primordialmente
ser a arte, de modo muito especial a arte escrita,
manifestação profunda da entidade humana de cuja personalidade ela?brota em fronde locupletada de flores, como o
ip?nacional,?para ser vista de longe,
para ser admirada por quem quer que seja que a contemple;?para ser amada pela nobreza dos
espíritos onde cai, por acaso ou por
desejo; para ser respeitada por quantos saibam ler e entender o que l?
?A literatura
nasce em qualquer lugar do mundo, cresce embalada por qualquer que a ela lhe
entregue seus felizes propósitos,?
surge?em qualquer ambiente,
acompanha a vida dos povos todos,?invade
qualquer espírito que dela goste, que dela use para expressar no papel, ou no
discurso, ou na poesia, as riquezas?lítero-artísticas que lhe habitem o interior. Digo então
que?ela ?universal, podendo se
manifestar nos cafundós do Judas de uma cidade brasileira, ou nos barulhentos e
complicados centros citadinos dos continentes d`aquém
ou d`além mar.?
Deixe-se?claro então que ela não
tem dono, ou melhor todos os que amam e a cuidam são seus donos, para trata-la com carinhos, para
vesti-la de roupagem brilhante, para leva-la a
conhecer e a ser valorizada por todos os povos. Para mim, ou para qualquer um,
a literatura tem asas divinas que a transportam para todos os recantos do
universo, onde seja recebida com o mesmo carinho de quem a gera, para que seja
amada como o mesmo amor daquele?que
a?colocou em letra de forma, em palavras
de ouro, em páginas de felicidade universal.
?Sou um
literato amador do interior?paulista.
Piracicaba ?minha terra de origem, em casa pequenina e humilde da sua zona
rural, quando e onde meus olhos se
abriram para a enormidade do sol da roça, das belezas da floresta ainda
virgem?e dos pássaros cantores louvando
a criação com seus hinos por todos os recantos da devesa.?Cursei escola das meigas professorinhas e
aprendi poesia,?línguas,?artes e literatura?em seminário de padres, condignos e
preparados. Desde os 20 anos ou pouco mais engajei-me?a escrever prosa, contos?e poesia nos jornais da cidade, resultando,
como ?lógico e conseqüente, a reunião em 7 livros de poesia e contos.
?Como eu, h?
inúmeros poetas, contistas, romancistas, superlotando o interior paulista.?Em Piracicaba, cito os poetas Francisco Lagreca, Elias de Mello Ayres, Newton de Almeida Mello ( autor e compositor da famosa ?Piracicaba que adoro tanto!
Cheia de flores, cheia de encantos?, e?
atualmente vivos: Ésio António Pezatto, Maria Cecília Bonachella,
quem redige estas linhas, e uma?ou duas
centenas de poetas que ilustram semanalmente as páginas reservadas para a
poesia pelos jornais “Jornal de Piracicaba?e “Tribuna de Piracicaba? Em São
Pedro, basta lembrar o imortal?Gustavo
Teixeira, cujo livro editado após sua morte, com prefácio do grande poeta
paulista Cassiano Ricardo ?algo espantoso em poesia.?As cidades vizinhas, como Capivari?e Tiet? guardam nomes gloriosos , como
Rodrigues de Abreu, Amadeu Amaral?e esse
fabuloso poeta-humorista Cornélio Pires.?
?E se fôssemos perlustrar todo o interior paulista o rol de poetas,
escritores, contistas, romancistas , preencheria páginas sem fim.
?Toda essa
fabulosa literatura interiorana, entretanto, não tem vez. Jaz ignorada pelos
grandes centros?literários do país e
pela grande imprensa e editoras , onde aparecem apenas e sempre os nomes dos
poetas e escritores de um passado muito distante, ou de certos autores do
presente,?cuja prosa ou poesia lembram
um amontoado de sexologia, de assassinatos gramaticais, de arrevezados
estilos,?de orgias romanescas,?com muito pouco ou quase nada de prosa ou de
poesia verdadeiras. ?modernismo, gritar?alguém. Concordo. Para ser modernista
todavia?não ?preciso malbaratar o que foi trazido at?nós, com arte, beleza,
dedicação e encanto.?Por que para ser
moderno se eliminaram a rima, a métrica, a estrofe, a
rima, na Poesia, e a profundidade e moralidade na prosa? Enaltece-se, por
exemplo, e cita-se como modelo o estilo de Sagarana.
Na verdade, porém, quem se aventurar pela sua leitura a
dentro, tenho certeza de que ao final de cada página h?de dizer-se:
“não entendi nada?
?Não foi
propósito deste escriba fazer crítica aos estilos de antes e de hoje, ma s?
lembrar que h?uma vasta literatura florescendo e frutificando, no mundo
interiorano do país, totalmente ignorada. Não ?citada, não ?comentada, não ?
analisada, não ?distribuída.?Existe. S?
que não??flor do jardim nacional da
literatura . ?flor do mato, onde recebe apenas o olhar luminoso e cálido?do sol, o frescor do orvalho, canta como os
pássaros s?para a paisagem circundante e morre sem nunca ter recebido o beijo
ou o cuspo da crítica nacional.
?Quero contudo ressalvar algo especial. Poetas e escritores piracicabanos são felizes pois contam com o apoio de seus matutinos diários, Jornal de Piracicaba e Tribuna de Piracicaba cuja direção compreensiva e sábia lhes acolhe os versos e os escritos em prosa, dedicando-lhes semanalmente uma página. E a?Prefeitura piracicabana presta a inestimável acolhida aos seus vates e escritores, publicando-lhes os livros e instituindo concurso de literatura com prêmios para os vencedores dos primeiros lugares.
?Isso ?muito
bom. Entretanto, volto a afirmar que literariamente o interior ?desconhecido
pelos grandes?centros da cultura nacional e pela grande imprensa do
país. O que ?uma pena, uma grande pena! Essa literatura, humilde sim, mas rica
em seu contexto, se me permitem, eu escreveria ser ela?um “Abre-te, Sésamo?
?espera de mostrar todo o tesouro que guarda e reluz em suas históricas arcas.
?Não sei se ?ousadia
de minha parte sugerir ?Linguagem Viva, para iniciar o desbravamento
desse importante interior literário,?ir
?famosa gruta desses tesouros interioranos e gritar?com toda a força de seus pulmões artísticos :?/span>Abre-te, Sésamo?
Lino Vitti, 86 anos, ?
aposentado como Diretor Administrativo da Câmara de Vereadores de Piracicaba e
como Redator do Jornal de Piracicaba. Detem o título
de “Príncipe dos Poetas Piracicabanos?concedido pela
Academia Piracicabana de Letras, Troféu Imprensa de
Piracicaba, concedido pelo Lions Clube Centro dessa
cidade; tem editado?7 livros de Poesia e
Contos . ??span class=SpellE>Piracicabanus Praeclarus?
título honorífico concedido pelo Poder Legislativo. Diplomado em Contabilidade
pela tradicional Escola de Comércio “Cristóvão?
Colombo?de Piracicaba.)