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DAS ORELHAS PARA OS OLHOS; DOS OLHOS, À LEITURA

 

Nelson Hoffman

 

A Associação Cultuarte Missões é uma entidade civil, sem fins lucrativos, que foi fundada em  dois de setembro de 1997, na Escola Estadual Érico Veríssimo, na cidade de Roque Gonzales, RS. A finalidade principal era a divulgação da Arte, em geral, embora o destaque maior sempre fosse a Literatura, pois que a Escola sempre se caracterizou pela intensa dedicação ao cultivo da leitura e pelo forte interesse dos alunos em produzir textos. E desde a fundação começou a produzir seus textos colocados em livros que por aí rodam, são manuseados, lidos e discutidos.

Os dois primeiros livros que a Cultuarte publicou foram “Antologia de Escritores de Roque Gonzales e Convidados – Poesias e Contos”, uma coletânea organizada pelo escritor e professor José Atanásio Magalhães, e o romance “Onde Está Maria?”, de autoria deste rabiscador. A publicação desses dois primeiros livros resultou também em outra parceria que se tornaria importante e saliente com o tempo, e sempre mais sólida e forte: a vinculação com a Universidade Regional Integrada - URI, Campus de Santo Ângelo, RS.

Por algum tempo, a Cultuarte sofreu dificuldades, quase sumiu, praticamente se mantendo apenas com a publicação dos livros de minha autoria. Aos poucos, porém, com a descentralização da cultura nacional, com o fervilhar de escritos e escritores por todos os cantos do país, o controle fugindo aos grandes centros e conglomerados, em especial ao chamado Eixão Rio-São Paulo, os pequenos foram abrindo sua estradinha e a Cultuarte foi tendo sua importância reconhecida e destacada. Hoje, é fortemente apoiada pela URI, de Santo Ângelo, RS, e forma parceria com livrarias e editoras de nível nacional, como a LEDIX, por exemplo, com sede em Florianópolis, SC.

Fruto disso, autores de nível vêm procurando associar-se à Cultuarte e nela produzir e por ela se expandir. O detalhe maior que norteia a Associação é a qualidade dos escritores. Não se quer quantidade de autores nem se busca unicamente o faturamento. Se muitos autores houver e a receita crescer, bem, tudo bem, ótimo. Mas, quantidade e moeda é mais transitório que raio em noite de temporal.

O que importa é a qualidade. Assim, no presente ano de 2006, já à disposição os livros mas com lançamento oficial previsto para o dia 13 de setembro de 2006, decidiu-se pela publicação de três livros de três autores diferentes e da melhor qualidade. Coube-me a abertura do trio por já ter meu nome reconhecido internacionalmente (acabo de ser publicado na Europa, mais uma vez, agora com o poema “Canção de Vida, de Morte, de Amor”, numa edição quadrilingue), fui condecorado com a Láurea do Mérito Cultural Firmino Teixeira do Amaral, da UBE/PI, entre outras homenagens, além de ser o autor que foi praticamente o suporte à Cultuarte por esses anos todos. A primazia foi-me honrosa e envaidecedora.

Maior, porém, foi-me a honra da companhia de minha filha Inês Hoffmann. Embora todas as suspeitas possíveis, ela foi escolhida e aceita por seus méritos poéticos que são incontestáveis. E, o curioso!, ela escrevia e seus escritos eram totalmente desconhecidos, secretos, só dela, lá dentro dela. A Inês, quem diria?

Eu volto à Inês. Antes, porém, falo do terceiro autor, personalidade por demais conhecida pelo Brasil inteiro. Médico, político, escritor, entre muitas outras atividades, o nome de Ruy Nedel dispensa apresentações. Como escritor, sua marca sempre foi o sucesso. Pois agora, o amigo Ruy resolveu voltar à terra natal e juntar-se a nós, aqui, na pequena Cultuarte e ajudar-nos a subir com a altura do status que ocupa.

Seu livro, “Ego Sum – O Mundo Interior”, é um belo e profundo poema lírico – isso mesmo: “poema lírico”, gênero literário muito raro – e teve comentário da Presidente da Cultuarte, Profª Alaíde Hoffmann, na orelha da capa. Depois de historiar os anos difíceis pelos quais a Cultuarte passou, Alaíde considera os eventos realizados e os sucessos obtidos para, concluindo, saudar a chegada do escritor Ruy Nedel:

Maior orgulho ainda infla as hostes da CULTUARTE a chegada e presença de Ruy Nedel. Este, Poeta e Escritor vastamente conhecido, publicado nos grandes centros nacionais, de Porto Alegre a Brasília, decidiu juntar-se aos sonhadores de Roque Gonzales, RS, e ajudar a mostrar ao mundo que aqui, neste fim de mundo como querem alguns,  se faz Cultura e Arte. Arte e Cultura de primeiríssima linha.

A Arte é o apanágio maior de uma Comunidade. Bem-vindo, Ruy, a CULTUARTE também é sua!

Volto à Inês Hoffmann. Volto e não digo nada. Apenas copio o que escrevi, por conta própria, sem licença nem pedido, e mandei que a gráfica colocasse nas orelhas da capa do livro “Parto”. “Parto”, o livro de Inês Hoffmann, é um livro de poesia e o meu texto dirige-se a algum possível e imaginário leitor. Assim:

 Amigo,

Sou suspeitíssimo, sei: a Inês Hoffmann é minha filha. Mas também sou honesto, garanto, e isso já não é pouco. E mantenho a cabeça acima do coração, o que é coisa mui rara.

Sei que se eu elogiar os textos da Inês, logo alguém me pespega: “Só podia, é a filhinha dele”. Sei, é assim. Deixa estar.

Mas, já disse, sou honesto e não minto. E confesso: li e reli o livro da Inês. Senti frêmitos, por vezes arrepios, e notei pele e pêlos em pé em meus braços. Cheguei a pensar no “Inferno”, de August Strindberg, para título do livro. Aceitei que “Parto” é melhor, sai das vísceras,  rasga as entranhas da alma humana.

A cabeça tem que controlar o coração e eu preciso reconhecer que o livro começa com uma certa tranqüilidade. Como na vida? Mas rápido, num quase repente, a poesia mergulha fundo, abre os escaninhos mais recônditos, solta os monstros do incontrolável, descerra a própria insanidade.

A Literatura é catarse, definiu Aristóteles, e é como catarse que Inês Hoffmann estréia nas Letras e volta à vida. De alma nova, amadurecida, purificada. A Literatura salva!

Amigo,

Não desconfie, leia! Você vai se assustar, eu sei, sim, e daí? No fim, verá que valeu a pena e a vida será outra. Depois da leitura.

Um abraço do

Nelson Hoffmann - escritor e crítico literário.