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A Fértil Terra

 

 

                                                                      Manoel Hygino dos Santos

 

Quando se ia antigamente à região do Triângulo, não se perdia ensejo de descansar em Uberabinha. Que era o nome do distrito de São Pedro de Uberabinha, então pertencente ao município de Uberaba, mas depois transformado em município independente e vila por lei de 1888.

Denominado Uberlândia por lei de 1929, o topônimo é formado pela palavra latina ‘uber’, que significa fértil, fecundo, e pelo vocábulo alemão ‘lândia’, terra. Como todos sabem, é portanto terra fértil, como aquela referida por Caminha, em que nela se plantando tudo daria.
Mas Uberlândia, uma das maiores cidades de Minas e de extraordinário progresso, é rica não apenas pela produção agrícola e pecuária. Tornou-se um grande centro industrial e empório cultural e artístico, com provas de incessante vitalidade.

Na passagem do ano de 2002 a 2003, Hélvio Lima, um entusiasta da cidade, artista plástico com longa carreira, lembrou alguns nomes especiais: Grande Otelo, Ido Finnotti, suave pintor dos ipês amarelos, Nélson Cupertino, grandes vozes e grandes instrumentistas que honram a música na cidade trianqulina.

E há o Fundinho, algo de muito especial, saboroso, que é o bairro antigo, preservado para glória dos que construíram e ajudam a construir a cidade que não pára. É um passado de histórias ricas e inesquecíveis, que o próprio “Fundinho Cultural”, editado religiosamente por Hélvio, mantém vivo. Lá estão educandários, galerias de arte, museus, praças. Porque o Fundinho foi antes o centro vivo da cidade, com seu animado comércio, uma cidade muito bem comportada, cheia de iniciativas, musical e alegre.

Aricy Curvello, poeta hoje reconhecido por publicações no Brasil e no exterior, nasceu em Uberlândia. Com melancolia, ele evoca o Praia Clube de sua infância, que por tantas transformações passou que não se vislumbra o de tempos pretéritos. Pensa com Heráclito: ‘Ninguém jamais se banha duas vezes nas águas do mesmo rio’. Esse imenso fluir, esse jamais detido fluxo do tempo, leva tudo e nos leva a todos.

Mas não há senão uma certa tristeza no poeta que ingressou, ano passado, na Academia Internazionale II Convivio, da Itália, e participa de momentos e publicações prestigiosos da Europa e América Latina; como há em Hélvio Lima apenas saudade de tempos que não se repetirão, mas que procura tenazmente manter vivos através de promoções da maior relevância. O pintor, autodidata, expõe desde 1968, presente a coletivas, individuais e salões de arte em todo o país, tendo colecionadores em vários estados e no exterior.

Se para o poeta de “O Acampamento”,  é “o presente o tempo um só no limiar jamais atravessando”, o artista plástico tem outra visão, acha que somos, acima de tudo, indivíduos, artistas, clowns, corpos cujo destino é seguir em frente.

Ambulantes, equilibristas, trapezistas, no caminho das cores e dos traços, buscamos de dentro a expressão do momento para voar. No ato criativo, ponte com o próximo, a nossa redenção. Apesar da fugaz materialidade, marcas do contemporâneo, na arte (reside) a nossa maior declaração de amor à vida. A força interior é que nos impulsiona a criar, permanece e alimenta em todos os tempos do verbo viver.

O pintor completou 20 anos de carreira. O poeta Aricy nem sei exatamente quando começou. Sei que há um imenso caminho aberto à sua arte e para mostrarem Uberlândia. Posso afiançar que não lhes faltam competência e amor ao trabalho que realizam.

Minas Gerais é assim. A fertilidade não fica apenas no solo e subsolo. Ainda bem.

Manoel Hygino dos Santos , jornalista e escritor, mantém coluna no grande diário “Hoje em Dia”, de Belo Horizonte.